quarta-feira, 3 de setembro de 2008

De dentro e de fora

"Não sou da universidade. Não vejo os defeitos, só as virtudes", disse o presidente.

Reportagem completa no link: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2008/09/03/ult105u6913.jhtm


Acho que é bem esse o problema... Ele não vê o defeitos, então não sabe que, pra abrir vagas nas Universidades (atitude que eu apoio, mas não dessa forma), é necessário melhorar, dentre outras coisas, a infra-estrutura. A exemplo do meu curso, onde serão abertas 6 novas vagas / semestre, totalizando 12 vagas ao ano (de 54 alunos / semestre, entrarão 60):

- os laboratórios alagam quando chove (se não é tomado o devido cuidado, os equipamentos - nada baratos - podem ser perdidos)
- turmas práticas de no máximo 12 alunos: para contemplar os 54 que entram, são necessárias pelo menos 5 turmas de cada disciplina. A disciplina de Farmácia Hospitalar, por envolver visitas semanais ao HC, em locais apertados (é um hospital público de grande porte, imaginem o tamanho das salas da Farmácia Hospitalar, do setor de dispensação, controle de qualidade, etc), comporta no máximo 6 alunos (7 se não tiver outro jeito!!) por turma... São pelo menos 8 turmas. Imagine um professor dar 8 aulas exatamente iguais toda semana!
- Sem contar que o número de turmas abertas NUNCA contempla o número de alunos que requerem a disciplina (isso pq é tudo cheio de pré-requisitos). Existem desistentes dos 54 que entram, mas ainda tem o PROVAR (reopção de curso / transferência) e os repetentes. Se teu rendimento acadêmico é um pouco mais baixo, lá por 6 ou 5,5, reze! É preciso fazer até promessa pra conseguir a vaga ou que o professor deixe que vc divida um microscópio, simplesmente pra não atrasar a formatura.

Quem leu o decreto, sabe que lá está escrito que serão abertas novas vagas para "o melhor aproveitamento da estrutura física já existente". Sei lá, pelo que eu aprendi em interpretação de texto, isso significa que a estrutura física está adequada (está?) e não necessita de investimento.

Mas tem coisa pior ainda nesse projeto. Uma das metas das Universidades que adotarem, é aumentar a relação professor:aluno pra 1:18 (atualmente aqui na UFPR é cerca de 1:10) significa aumentar o número de vagas, se minha matemática não falha. E eu já acho que 12 vagas anuais a mais desestruturarão bastante o curso. E o presidente ainda fala em contratação de professores (precisa, mesmo!)... Bem, quer dizer que vai ter que aumentar ainda mais o número de vagas... Né?

Aumentar a taxa de conclusão de curso
(menos desistentes, mais formandos), outra meta do REUNI, é bonito e tal. Mas, na prática, do jeito que a coisa anda nas Universidades brasileiras, isso significa diminuir a qualidade de ensino e passar nas disciplinas sem grande esforço. Quem tá indo bem na facul não desiste. Fato.

E essas metas devem ser cumpridas... Não é do tipo: "ah, seria bom, né". Se a Universidade não cumprir, ela não recebe o dinheiro do MEC. Aí é pior ainda: ganhou 2 mil novos alunos (a UFPR) e nem um tostão a mais. Bacana isso.

Eu apóio, muito, a inclusão social. Eu acho que deveria haver vagas para todos nas Universidades. Mas desse jeito eu não aceito. Pq só quem tá aqui dentro sabe o que tá ruim e o que precisa melhorar.

E aqui está ruim. Para mostrarmos (nós, estudantes) isso ao governo e aos próprios professores e administradores da UFPR, tiramos 2 no ENADE (e sim, ele foi boicotado). Agora o Lula sabe que tá ruim. Quero ver o que ele vai fazer em relação a isso.

Por isso eu sou contra o REUNI. Ele não resolve o problema, mas consegue enganar quem tá de fora. o REI-tor Moreira (hoje candidato a prefeito de Curitiba, oftalmologista e o responsável por aprovar o REUNI numa reunião do Conselho Universitário chamado às pressas e às escondidas, na ala da Maternidade do HC, enquanto a sala do COUN estava ocupada por estudantes) grita: "Eu aumentei o número de vagas nas Universidades". Fala que também pode ser repetida pelo presidente Lula.

E quem paga por isso sou eu.
É mole?