terça-feira, 21 de setembro de 2010

Misturas

 

"As palavras devem ter vida e gesto, cor, cheiro, sabor, e a medida justa para ocupar apenas o espaço a elas destinado no mosaico do silêncio." (Miguel Marvilla)






Lápide
(MM)
 
se há de chover, que chova.
a chuva
lava
a palavra
respaldo do germe.

se há de saber, que haja.
defronte mesmo à parede,
o caos não se repensa.

se há de consentir, que forje.
os mitos
não se permitem
ousar mais: são mitos.

se há de louvar, que duvide.
os pães
e os ladrões
não dormem na mesma mão.

se há de negar, que conheça.
(é preciso aço e membrana.)

se há de fluir, que aconchegue.
(é preciso sangue e nácar.)

se há de haver, que nasça.
excessos
e encéfalos
fazem
a
massa
da
vida.

(se há de morrer, que anoiteça.)

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E é só o que eu quero compartilhar dos meus pensamentos, hoje. Pode ser?! :)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Planos, poker e tudo o mais

Cadastrando.
Revelando.
Esperando.

Semaninha boa, essa.
Tô me sentindo cada vez mais farmacêutica, cada vez mais querida, cada vez mais perto das coisas. Setembro chegou, brilhando, trazendo a primavera. :) É, eu estou de bom humor! Dá licença?
Estou aproveitando meus últimos meses na cidade que eu passei 5 anos odiando, mas estou aprendendo a amar!

Ao som de Maria Rita, tudo melhora ainda mais. :)

Agora só falta você (Maria Rita)

Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto à você
E em tudo o que eu faço
Existe um porquê
Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber
Pra saber o quê?
E fui andando sem pensar em mudar
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu
No ar que eu respiro
Eu sinto prazer
De ser quem eu sou
De estar onde estou

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Carpe Diem

"Quem nasceu Tubaína nunca será Coca-cola" (Ou Pepsi!)

Eu gosto dos meus inimigos pq eles declaram abertamente que não gostam de mim. A sinceridade rola solta.
Agora, esses tipinhos que ficam de enrolação, pra ver se ganham mais um pedacinho de queijo, hummm, sei não.

(Ainda bem que eu nasci com dois olhos, né? :D)

Mas sejamos sinceros: nada melhor do que ser espontâneo quando se quer ser. E daí que vc não atendeu o telefone daquele cara que vc conheceu no sábado? O sábado foi bom mesmo assim, não foi? E daí que vc decidiu ficar em casa na terça a tarde? Valeu a pena, não valeu? De agora em diante, acordemos: Carpe Diem. Chega de suprimir emoções e sensações. Quero sair, gritar, pular e tomar banho de chuva. E tenho dito.

E vamos pra NYC!

Queijos e goiabadas pra quem fica.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Simpatia

Muitas vezes, um sorriso significa apenas... um sorriso.

O feriado vai bem, obrigada. Deixando, como sempre, alguns afazeres para a última hora. Curiosa em descobrir algumas verdades, satisfeita por ter aproveitado as horas. Ansiosa pela chegada dos próximos dias. Precisando de um martini.

E quem disse que uma escada rolante quebrada não presta?!



O que será (A flor da terra)
(Chico Buarque)

O que será que será
Que andam suspirando
Pelas alcovas?
Que andam sussurrando
Em versos e trovas?
Que andam combinando
No breu das tocas?
Que anda nas cabeças?
Anda nas bocas?
Que andam acendendo
Velas nos becos?
Estão falando alto
Pelos botecos
E gritam nos mercados
Que com certeza
Está na natureza
Será, que será?
O que não tem certeza
Nem nunca terá!
O que não tem conserto
Nem nunca terá!
O que não tem tamanho...
O que será? Que Será?
Que vive nas idéias
Desses amantes
Que cantam os poetas
Mais delirantes
Que juram os profetas
Embriagados
Está na romaria
Dos mutilados
Está nas fantasias
Dos infelizes
Está no dia a dia
Das meretrizes
No plano dos bandidos
Dos desvalidos
Em todos os sentidos
Será, que será?
O que não tem decência
Nem nunca terá!
O que não tem censura
Nem nunca terá!
O que não faz sentido...
O que será? Que será?
Que todos os avisos
Não vão evitar
Porque todos os risos
Vão desafiar
Porque todos os sinos
Irão repicar
Porque todos os hinos
Irão consagrar
E todos os meninos
Vão desembestar
E todos os destinos
Irão se encontrar
E mesmo padre eterno
Que nunca foi lá
Olhando aquele inferno
Vai abençoar!
O que não tem governo
Nem nunca terá!
O que não tem vergonha
Nem nunca terá!
O que não tem juízo...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Faxinas

Já repararam que, em feriados, por mais que você diga "vamos aproveitar tudo!", "vou viajar", etc, vc sempre terminará arrumando a casa, em algum momento? Se não for a casa, vai ser o guarda-roupa, o quarto, qualquer lugar. Nem que seja a mala.

Não dava pra gente ter um feriado que já viesse pronto?

Poeminha da Beatriz Abaurre, escritora capixaba. Li esse poema há alguns anos, e o decorei na hora. Amei.

Que festa fiz pra você!

Fiz, hoje, uma arrumação:
- Desci ao "porão" do tempo...
Tirei o pó das lembranças,
Espantei minhas tristezas,
Varri todos os dissabores.
Quantas mágoas joguei fora!
Lavei minh'alma com o pranto,
Chorei lágrimas tão doces!
Correram como se fossem
Orvalho molhando a terra...
Escancarei as janelas
Da alma, pra que entrasse a luz.
Colhi um buquê de sonhos,
Pra enfeitar meu coração.
Liguei o "som" da memória;
Cantarolei bem baixinho,
Aquela nossa canção...
Que festa fiz pra você!
Assim que você chegar,
De novo estarei sorrindo!
Estarei à porta esperando...

Vinganças

Só um post, pra não perder a piada:

A melhor maneira de irritar uma pessoa que quer te irritar, é dizer que ela te fez um bem. :)
Como eu me divirto com essas coisas!

Felicidades a todos nós! (amigos ou não)

E beijo pra quem me leu.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Coisas novas

Sei que tenho seguidores (não tão) anônimos. Mas vi uma citação do Caio Fernando de Abreu, em um site de um desses seguidores. E me coube. Não sou orgulhosa de não agradecer.

Obrigada, Meyh.

"Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."

(Caio Fernando Abreu)
 
 
 
Sou nova.

sábado, 14 de agosto de 2010

Regras

Não mate, seja gentil, respeite os mais velhos.
Eduque-se, cresça, pratique exercícios.
Ande na calçada, atravesse na faixa, não avance o sinal.
Goste de crianças, coma verduras, use filtro solar.
Não faça barulho, não traia, não deseje o mal.
(cuide-se)
Seja sincero, não roube, não buzine.
Estude, ganhe dinheiro, viaje.
Pague impostos, não abandone, não reprima.
Use camisinha, não fume, não beba.
(economize)
Ame a todos, odeie ninguém, adote animais.
Não fuja, não faça queimadas, não desperdice.
Cuidado com o sol, com os ouvidos, com os olhos.
Não exagere, acorde de bom humor, não grite.
Sobretudo, não brigue.
Seja bondoso, fale inglês, durma bem.
Acorde cedo, evite gorduras, não use drogas.
(viva)
Seja prestativo, converse, não arrisque.
Não use sacolas, não jogue o lixo na rua, beba bastante líquidos.
Amamente, tenha empatia, não maltrate.

Valores, leis e conselhos: quantos deles você conhece?
(e quantos valem à pena?)

domingo, 8 de agosto de 2010

Infância

(Hoje eu tentei lembrar de um poema que eu escrevi, em 1998, em uma aula de Português da 4ª série. Hoje, sendo dia dos pais, eu queria dedicar este poema ao meu, pois foi ele meu maior apoiador na escrita. Mas a minha memória está falha, e eu não consigo lembrar de dois versos, apenas dois, dos 16 que compõem as quatro quadras. E um poema incompleto não é um poema. Perde a razão, perde o sentido, perde a vida. Tenho a certeza de que o digitei, com uma máquina de escrever, em uma folha. A máquina já não escreve mais; e a folha, enfim, deve estar amarela e corroída. Procurarei e, ao achá-la, quitarei a minha dívida com esta homenagem)

Fica aqui, ao menos, o meu Feliz dia dos Pais.
E uma música que um amigo me mostrou hoje, dizendo que se lembrou de mim ao ouvi-la. :)

Alucinação (Engenheiros do Hawaii)

eu não estou interessado em nenhuma teoria
em nenhuma fantasia nem no algo mais
longe o profeta do terror que a laranja mecânica anuncia
amar e mudar as coisas me interessa mais
muito mais...me interessa
eu não estou interessado em nenhuma teoria
nessas coisas do oriente, romances astrais
minha alucinação é suportar o dia-a-dia
meu delírio é a experiência com coisas reais
um preto, um pobre,
um estudante, uma mulher sozinha
blue jeans e motocicletas, pessoas cinzas normais
garotas dentro da noite...revólver:"cheira cachorro"
os humilhados do parque com os seus jornais
me interessam
amar e mudar as coisas me interessa mais
um corpo cai do oitavo andar
a solidão das pessoas nessas capitais
a violência da noite...o movimento do trâfego
amar e mudar...amar e mudar
amar e mudar as coisas me interessa mais
eu não estou interessado em nenhuma teoria
em nenhuma fantasia nem no algo mais
longe o profeta do terror que a laranja mecânica anuncia
amar e mudar as coisas me interessa mais

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Inspiração

"O estado da sua vida nada mais é do que o reflexo do estado da sua mente."
(Wayne Dye)


Hoje não dissertarei sobre pensamentos, momentos ou opiniões. Hoje é simples, apenas algumas palavras, juntas, uma atrás da outra, fazendo sentido... Ou não.

Espero que gostem. :)

E um bom final-de-semana para todos nós.


Silêncios

slapt
BUM!
trim-trim

BANG!
clic
toc toc

piii
oinc oinc
crec

haha
vrummm
ohhhh

Onomatopeias.
(surgem, espantam, colorem).
E eu sigo assim,
apenas,
ouvindo.


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

É como mergulhar num rio

Hoje eu acordei com vontade de ontem.
Hoje me deu vontade de dormir mais um pouco.
Me deu vontade de vestir uma roupa de verão, em pleno inverno.
Me deu vontade de sair numa foto histórica do HC.
Me deu uma vontade repentina de ligar pra alguém e ouvir uma voz reconfortante.
Hoje eu tive vontade de comer uma torta de chocolate de almoço.
Também quis bater papo com um estranho, na fila do ambulatório.
Tive vontade de dançar, também.
Hoje me deu vontade de ligar pra um amigo e convidar pra um café.
E a vontade de escrever?
De repente me deu vontade, hoje, de chorar.Me deu vontade de desmarcar compromissos.
Hoje me deu vontade de saudade - muita saudade.
Hoje eu quis perguntar pro rapaz simpático da Oftalmo: Como é o seu nome?
E a vontade que deu de apertar a mão do reitor?
E me deu uma vontade tão grande de voar pra longe, bem longe.
Me deu vontade, no setor de Cirurgia Geral, de perguntar: O Dr. André está?
Tive vontade de andar pelos corredores do Hospital de Clínicas e conhecer um pouco mais do hospital, do meu hospital.
E quis acabar com o choro daquele neném, na fila da pediatria.
Eu também tive vontade de conhecer novos caminhos, novos lugares da cidade.
Eu também tive vontade de um beijo.
E hoje me deu uma vontade louca e irrepreensível de comer um Passatempo. E eu fui lá e comi.

domingo, 1 de agosto de 2010

Às vezes, se eu me distraio...

Semana recomeçando!

Amanhã será meu primeiro dia no Hospital de Clínicas da UFPR. Quem me imaginaria naquele lugar, algum dia, 5 anos atrás? Melhor, quem me imaginaria lá 2 meses atrás? Eu teria apostado com qualquer um, dizendo que NUNCA faria isso.

Mas começo amanhã, no setor de Bacteriologia e Urinálise. E começo de bom grado, ansiosa, quase realizada. Será difícil, pois terei que correr atrás de conteúdos nos quais eu passei direto. Contudo, certamente serei uma profissional melhor e mais completa após essa experiência.

E, também, vou aprender a lidar com meus medos, meus defeitos. É importante isso, não é? Pro crescimento. Sei que, em alguns momentos, eu vou fracassar. Mas não me arrependerei por ter tentado! Não pensarei no "se". Andei vacilando os últimos tempos, e apanhei por isso. Hoje não vacilo mais. Hoje estou feliz, sou feliz, me fazem feliz. :)

Desculpe o post sobre a minha vida, sobre os meus pensamentos. Estou me redescobrindo, aos poucos, colocando meus pés no chão. Meu caderninho de anotações, por enquanto, fica no bolso. Perco a razão ao falar sobre os outros, sobre o mundo, quando eu me apresento com uma confusão de pensamentos e desejos.



Fico aqui com uma música bonita, da minha infância, de recomeço; de um cd do qual eu não consegui me desfazer.

A Arca de Noé 
(Vinicius de Moraes)

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata

O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata

E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca

Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas

Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante

E de dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece

"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta, e o tigre - "Não"

A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair

Afinal com muito custo
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida

Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O que há de errado

Como sempre acontece... Bem, na verdade, o sempre é muito dramático. Comecemos de novo.

Como já me aconteceu antes, as músicas da minha querida Legião Urbana me expressam de uma maneira única. Mas sei que não sou a única a se deparar com situações em que letras melancólicas, raivosas ou amorosas definem sentimentos que nem eu sei quais são. Dessa vez, no momento em que passo, retiro uma música do álbum "A Tempestade", talvez o mais sombrio de todos os lançados sob a bandeira do "Legião Urbana". Queria retirar alguma música do alegre "Descobrimento do Brasil" ou mesmo do saudoso show ao vivo "Como é que se diz eu te amo". Mas o momento pede outro álbum.

O momento é este. Esta tempestade de descobrimentos, de decepções e de felicidades. Uma chuva de verdades, com raios de atitudes narcisistas egoístas e alguns ventos de rancor. Duas semanas de humores indos e vindos de todos os cantos e meios de comunicação. De intrigas, xingamentos, lágrimas. De arrependimentos. De amor. De amizade.

Agradeço à diversão (e, aqui, uso minha crase como gostaria, pois sou grata única e exclusivamente à diversão). Agradeço por ela me ensinar que nem tudo são flores, que é preciso sofrer para curar um machucado - e que, fatalmente, esse sofrimento causará outros machucados, e assim vamos vivendo e aprimorando nossos espíritos e nossa consciência. Agradeço pelos ensinamentos.

Já disse a letra: 

"O mal do século é a solidão 
Cada um de nós imerso em sua própria arrogância
Esperando por um pouco de afeição"

E que maior verdade? Nossas atitudes são guiadas pelo nosso desejo de sermos queridos, amados, desejados, olhados ao menos. Seja por conseguir aquele emprego que sempre desejamos (e o desejamos por quê?), seja por ir a um jantar com um velho amigo. E este desejo é tamanho, que não reparamos no mal que fazemos ao próximo, desde que sejamos beneficiados.

Mesmo pertencendo ao seu álbum mais desesperador, Renato Russo demonstra não ter desistido da vida, das pessoas.

"E o que disserem
Meu pai sempre esteve esperando por mim 
(...)
E o que disserem 
meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim"

Com tudo isso, e todos esses meses desde que a tempestade começou, percebi que espero demais da vida, das pessoas. Mas "Estamos vivendo / E o que disserem / Os nossos dias serão para sempre". Não, não vou desistir. Agradeço à nova chance que me foi dada, ao recomeço.

Por vezes eu falharei, mas não me julgue tão severamente. Aprendi algo valioso - com tudo isso, e tudo o mais: eu sei dizer "me desculpe"

Então: me desculpe. e Obrigada.


ESPERANDO POR MIM (Legião Urbana)

Acho que você não percebeu
Que o meu sorriso era sincero
Sou tão cínico às vezes
O tempo todo
Estou tentando me defender
Digam o que disserem
O mal do século é a solidão
Cada um de nós imerso em sua própria
arrogância
Esperando por um pouco de afeição
Hoje não estava nada bem
Mas a tempestade me distrai
Gosto dos pingos de chuva
Dos relâmpagos e dos trovões
Hoje à tarde foi um dia bom
Saí prá caminhar com meu pai
Conversamos sobre coisas da vida
E tivemos um momento de paz
É de noite que tudo faz sentido
No silêncio eu não ouço meus gritos
E o que disserem
Meu pai sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Minha mãe sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Meus verdadeiros amigos sempre esperaram por mim
E o que disserem
Agora meu filho espera por mim
Estamos vivendo
E o que disserem
os nossos dias serão para sempre

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Reviravoltas

Só pra dizer. Voltarei a escrever neste pequeno diário virtual... assim que minha inspiração permitir. =) E sem desculpas!

É uma promessa de meio de ano. E uma comemoração aos últimos acontecimentos. ^^

Fica assim, então.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Como uma onda no mar

Sabe o mar?

Pois então:
ele vai... mas volta (mas nunca sabemos quando, e nem como).

Hoje eu tô afim de Luis Fernando Veríssimo.
Vai aí um conto de terror, pras noites solitárias dos desavisados.

---

Sozinhos

Esta idéia para um conto de terror é tão terrível que, logo depois de tê-la, me arrependi. Mas já estava tida, não adiantava mais. Você, leitor, no entanto, tem uma escolha. Pode parar aqui, e se poupar, ou ler até o fim e provavelmente nunca mais dormir. Vejo que decidiu continuar. Muito bem, vamos em frente. Talvez, posta no papel, a idéia perca um pouco do seu poder de susto. Mas não posso garantir nada. É assim:

Um casal de velhos mora sozinho numa casa. Já criaram os filhos, os netos já estão grandes, só lhes resta implicar um com o outro. Retomam com novo fervor uma discussão antiga. Ela diz que ele ronca quando dorme, ele diz que é mentira.
- Ronca.
- Não ronco.
- Ele diz que não ronca - comenta ela, impaciente, como se falasse com uma terceira pessoa.
Mas não existe outra pessoa na casa. Os filhos raramente visitam. Os netos, nunca. A empregada vem de manhã, faz o almoço, deixa o jantar e sai cedo. Ficam os dois sozinhos.
- Eu devia gravar os seus roncos, pra você se convencer - diz ela. E em seguida tem a idéia infeliz. - É o que eu vou fazer! Esta noite, quando você dormir, vou ligar o gravador e gravar os seus roncos.
- Humrfm - diz o velho.

Você, leitor, já deve estar sentindo o que vai acontecer. Pare de ler, leitor. Eu não posso parar de escrever. Às idéias não podem ser desperdiçadas, mesmo que nos custem amigos, a vida ou o sono. Imagine se Shakespeare tivesse se horrorizado com suas próprias idéias e deixado de escrevê-las, por puro comedimento. Não que eu queira me comparar a Shakespeare. Shakespeare era bem mais magro. Tenho que exercer este ofício, esta danação. Você, no entanto, não é obrigado a me acompanhar, leitor. Vá passear, vá tomar um sol. Uma das maneiras de controlar a demência solta no mundo e deixar os escritores falando sozinhos, exercendo sozinhos a sua profissão malsã, o seu vício solitário. Você ainda está lendo. Você é pior do que eu, leitor. Você tinha escolha.

Sozinhos. Os velhos sozinhos na casa. Os dois vão para a cama. Quando o velho dorme, a velha liga o gravador. Mas em poucos minutos a velha também dorme. O gravador fica ligado, gravando. Pouco depois a fita acaba. Na manhã seguinte, certa do seu triunfo, a velha roda a fita. Ouvem-se alguns minutos de silêncio. Depois, alguém roncando.

- Rarrá! - diz a velha, feliz.
Pouco depois ouve-se o ronco de outra pessoa, a velha também ronca!
- Rarrá! - diz o velho, vingativo.
E em seguida, por cima do contraponto de roncos, ouve-se um sussurro. Uma voz sussurrando, leitor. Uma voz indefinida. Pode ser de homem, de mulher ou de criança. A princípio - por causa dos roncos - não se distingue o que ela diz. Mas aos poucos as palavras vão ficando claras. São duas vozes. É um diálogo sussurrado.

"Estão prontos?"
"Não, acho que ainda não..."
"Então vamos voltar amanhã..."

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Alicia Keys ao som de Zeca Baleiro

"Ando tão à flor da pele..."

Os últimos dias foram regados com uma triha sonora diferenciada. Ao som de Alicia Keys, venho a este reduto desenhar umas palavras.

Se fosse um trabalho de faculdade dissertar sobre as reviravoltas que a minha vida deu (ou não) desde o início do mês, podia escrever toda uma monografia, defendê-la e retirar meu título de Mestre em Peripécias.

Mas deixemos de xurumelas.

Jardim

No crepúsculo, a casa é silenciosa. De quando em quando ouve-se risadas de diferentes tons vindas dos mais variados cantos. Um gato passeia, arrogante, com seu olhar instigador e avaliador, parecendo escolher um lugar quente e confortável para dormir.


A noite está fria e nebulosa. A mesa da cozinha está repleta de farelos de pão e guardanapos. Um grupo de amigos conversa, caladamente, sobre o último lançamento dos cinemas. O filme é Alice e o local, Curitiba.


A TV transmite um programa sobre produção e consertos de pneus, e há apenas um par de olhos interessados. Os outros presentes da sala dormem, digitam, leem ou simplesmente arranjam seus pensamentos em uma cidade distante. No quarto ao lado há alguém perdido, preocupado, ao telefone. Na sala de estudos ninguém estuda; o gato encontrou seu lugar. O caminho pelas escadas é sombrio, temeroso, apagado. Em vários quartos há pessoas dormindo o sono do descanso, de mais um dia vencido e vivido.

E, no jardim, finalmente, há alguém. Há alguém em pé, encarando a rua. Há alguém parado, sem notar e ser notado. Há alguém angustiado, perturbado, descalço. No jardim há alguém, simplesmente, pensando.