Eu estou com vontade de tomar um banho de chuva. Minha gripe que me perdoe, mas eu não vou desperdiçar a próxima chuva! Tem coisa mais simples que isso? Sabe quando você está no meio da rua, cheia de papéis, com aquela blusa nova e começa a cair água do céu? E você fica bravíssima (ou bravíssimo) porque justamente naquele dia você não levou o guarda-chuva, e não terá tempo para voltar pra casa pra trocar de roupa? Pois então. Eu sempre fui a primeira a me indignar com São Pedro, com essas peraltices dele... Mas agora eu tô louca por um banho de chuva!
Pra quem não sabe, no final do ano eu vou realizar um sonho. E agora é sério: a passagem já está comprada... Posso parar de dormir hoje?!
Agora, sobre o cotidiano.
Parei hoje para reparar nas pessoas ao meu redor. Eu desci com umas 15 sacolas de lixo, um cartaz duas bolsas (uma com as coisas da natação! =D)... Tinha um menino, que sempre está aqui embaixo interfonando para a moradora do terceiro andar. Ele estuda na mesma faculdade que eu, me deu "Bom dia", sabe que eu estava indo pro mesmo ponto de ônibus que ele, e ele sequer se ofereceu pra me ajudar. É mole? Era só segurar o cartaz enquanto eu jogava o lixo fora...
Vergonha ou preguiça?
"Comentário: não gostei da recepção de hoje. Achei muito, hum, acolorada. Tanto tempo sem comunicação, credo."
Um texto enfeitadinho pra hoje...
Eduardo e Mônica
Na casa, enquanto uns dormem, outros aproveitam-se da insônia e papeiam. Cadeiras viradas, garrafas de cerveja, guardanapos. Cigarros, inteiros e fumados, acumulam-se em cinzeiros, latas e no chão. Uma festa.
Pode-se escutar o som do violão e algumas vozes desafinadas tentando desenhar uma canção no ar. Há muito os pássaros estão despertos e acompanham a cantoria na varanda.
“Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar, ficou deitado...”, cantam Legião Urbana.
O sol está nascendo, mas o tempo parece não passar.
Um casal se abraça, se desprendem da cantoria e entram num particular, a dois. Os outros olham com certa indiferença, não por reprovarem a cena, mas por perderem duas vozes.
“O Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas a Mônica queria ver o filme...”, continuam a música. O violão ruge um som esquisito, trocando o mi pelo sol. Os cantores não se intimidam.
“Ela era de leão, e ele tinha dezesseis...”
De repente aparece um rosto inchado e sonolento na cozinha. Ele espia a cantoria e se sente convidado a integrar a festa. A cama estava quente e amassada. O rosto sobe as escadas vagarosamente, pensando se a cantoria ajudará na retomada daquele sonho com dragões e lesmas voadoras.
“E os dois se encontravam todo dia, e a vontade crescia...”
O casal se retira.
“Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer...”
Duas vozes acompanham um violão desafinado. O sol já nasceu. Os pássaros voam rasantes à mesa, dando seu próprio show. Olhares se entrecruzam.
“Construíram uma casa uns dois anos atrás...”
O violão erra novamente. Sorrisos. Satisfação do músico. Agora as vozes não parecem tão desafinadas.
“Porque o filhinho do Eduardo está de recuperação...”
O garoto esperou esse momento. “Ah! ahaaan”, imitando o Renato. Ele sorri para ela. Ela retribui desviando o olhar.
O violão cessa. O músico se retira. Os pássaros se acalmam. O sol se desfaz, caindo uma chuva fina. Mas continuavam ali: o violão, o músico, os pássaros e o sol.
Mesmo sem melodia, continuam a cantar.
“E quem um dia irá dizer, que existe razão nas coisas feitas pelo coração?”
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